DIAS OFF


“ Há dias em que me sinto vazia, como se um cansaço imenso e letárgico se tivesse instalado sem pré-aviso e me tolhesse o coração e o espírito. São dias em que acordar é pior do que ter um pesadelo e levantar-me da cama me parece mais difícil que atravessar o Atlântico a nado. Manhas submersas em recordações e saudades, a sonhar calada tudo o que quis e nunca tive, mais o que já mereço mas ainda não alcancei. Nesses dias, em que há sempre um pouco de sol mas a chuva ainda não desceu à terra para a lavar e sacudir, só me apetece ficar quieta e esquecer o mundo, na esperança que o mundo, por um dia, também se esqueça que existo. Gosto da sensação de me subtrair e desaparecer magicamente, partir sem deixar rasto, esconder-me de todos e de mim própria para ver se me encontro. (…)
Nos dias off apetece-me que a minha casa se transforme numa concha com um frigorífico cheio de iogurtes e uma estante com os melhores livros da minha vida. Nesses dias de esquecimento voluntário do mundo, desligo os telefones, penso que o que quer que acontece não pode ser nem tão urgente nem tão importante que não possa esperar mais 24 horas e rezo a um deus qualquer que me tire desta letargia solitária e imensa, onde me afogo para não desaparecer. Mas espero ainda um sinal do mundo, um livro ou um disco, enviados pelo correio ou um ramo de alfazemas, que me aqueça o coração e me faça pensar que apesar de tudo ainda vale a pena estar viva.”

Margarida Rebelo Pinto in “as crónicas da margarida”

Nem todos os dias assim o são, mas quando são mesmo, mais vale mesmo ficar-mos sossegados, não vamos nós fazer algum disparate!

=)

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